Uma bibliografia da terra portuguesa

São inúmeros os livros de Portugal a que sempre volto, mas só um punhado deles mereceu, pelo entusiasmo que me despertam, o selo “Ouro” que coloquei na primeira página. Aqui vou celebrá-los brevemente, embora meu ideal seja escrever um livro inteiro sobre eles.

As duas obras essenciais de conjunto são a Etnografia Portuguesa de José Leite de Vasconcelos e o Guia de Portugal iniciado na década de 1920 por Raul Proença e continuado na década de 1960 por Sant'Anna Dionísio. É composta a primeira de dez volumes publicados entre 1980 e 1988 (e posteriormente reeditados) e a segunda de oito, também reeditados na década de 1980. O primeiro é um fabuloso arsenal sobre o povo português, da autoria do professor dos professores; o segundo, um guia já impossível de igualar, pois retrata Portugal antes das sucessivas debacles das últimas décadas e também os seus autores foram espíritos de verdadeira profundidade e amplitude.

Como captura concisa e essencial do país, o melhor livro é o de Miguel Torga (Portugal, 1950, reed. 1986), seguido do que fez Jaime Cortesão (Portugal. A terra e o homem, 1960, reed. 1987). No aspecto fotográfico, o enorme volume da Câmara de Bragança Portugal no primeiro quartel do século XX. Documentação pelo bilhete postal ilustrado (1985) é um tesouro.

As revistas etnográficas acumulam uma enorme quantidade de obras raras e ricas. Limito-me a nomear quatro muito especiais: A TradiçãoTerra portuguesaDouro Litoral e Brigântia. A primeira, publicada nos anos de 1899-1904, foi reeditada em fac-símile pela Câmara de Serpa em 1982 (2 vols.); a segunda, cheia de curiosidades –como PortucalePortugáliaRevista Lusitana ou Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia–, foi desenvolvida a partir de 1918; a terceira, do Porto, é o clássico por excelência; a quarta, de Bragança, lançada em 1981, teve como principal animador Belarmino Afonso, homenageado postumamente no seu último número, de 2006.

Três belos livros devem-se à obra conjunta de José Manuel Fernandes e Maurício Abreu – textos comoventes e fotos esplêndidas: O homem e o mar. O litoral português (1987), Rios de Portugal (1990) e Serras de Portugal (1994). Funcionam como uma trilogia perfeita, não isentas da melancolia que emana de um mundo em mutação e extinção.

Já entrando nos trabalhos regionais, vamos começar pelo Minho. Nos pequenos guias da Mobil (“Nos caminhos de Portugal”), Francisco Hipólito Raposo publicou um baedecker perfeito: O Minho (1986), devendo-se também a este inteligente escritor os outros três volumes redondos da coleção: o da Beira Alta, o do Alto Alentejo e o da Estremadura e Ribatejo (1987) –Hipólito Raposo também coordenou, para o Clube Internacional do Livro, em 1994, o luxuoso Portugal passo a passo, numa dezena de grandes volumes de textos desiguais mas de documentação fotográfica riquíssima. Mas continuemos com o Minho, onde devemos destacar o fascinante trabalho fotográfico A feira de Ponte (Arquivo de Ponte de Lima, 2005), do Conde de Aurora, que não é outro senão o homem-estátua cuja foto aparece na pág. 41 do volume 1 de Viaje sin retorno, e que também é autor do belíssimo Roteiro da Ribeira-Lima (1929). Como retrato de uma comunidade minhota, temos a monografia de Jorge Dias Vilarinho da Furna, publicada em 1948 (reed. 1981); após o seu estudo, esta aldeia, de exemplar comunitarismo, seria soterrada por uma central hidroeléctrica.

No Douro Litoral, uma das maiores comunidades piscatórias do país, a Póvoa de Varzim, foi estudada por Santos Graça noutro clássico: O poveiro (1932, reed. 1982). Quanto ao Douro vinho do Porto, tema de muitos livros (que hoje já são horríveis, mera publicidade turística do "património da humanidade"), destacam-se estas duas jóias fotográficas: O Douro de Domingos Alvão (1995) e O Douro. Do Tua à Foz com a fotografia Beleza, de Maria do Carmo Serén (2002), e, mais recentemente, o definitivo Dicionário ilustrado do vinho do Porto, de Manuel Pintão e Carlos Cabral (2014), e Arquiteturas da paisagem no Alto Douro vinhateiro (2013, com belas fotos mas já preso no volume 1).

Trás-os-Montes abunda em livros gloriosos, a começar pelas incríveis Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança do incrível Abade do Baçal (Francisco Manuel Alves), embora os seus onze volumes sejam muito difícis de encontrar. Não muito atrás ficam os estudos que António Maria Mourinho tem feito sobre as terras de Miranda, muitos dos quais reunidos no volume Terra de Miranda (1991). Nem as de António Fontes noutra zona privilegiada: Barroso, em particular os dois volumes intitulados Etnografia transmontana (1992). O Abade de Baçal, António Maria Mourinho e António Fontes são três poetas, e esse espírito de poesia também transborda em Trás-os-Montes, do fotógrafo Georges Dussaud, com textos de Miguel Torga (mais fotos de Dussaud estão disponíveis em Portugal, editado em 2015 pela Câmara Municipal de Bragança). A poesia reina também num livro invulgar que devo ter lido umas sete vezes: Não criei musgo, do escritor inglês John Gibbons, onde faz uma descrição espantosa de uma aldeia de Carrazeda de Ansiães (Coleja) nos finais dos anos 30. Gibbons cumpre mesmo a missão impossível de ultrapassar as duas melhores monografias de populações transmontanas: a do Vimioso do Abade de Baçal (1968) e a do Rio de Onor de Jorge Dias (1953, reed. 1984); esta é mais um retrato perfeito de outra admirável sociedade comunitária.

Nas Beiras, a vertente etnográfica foi muito bem contemplada por Jaime Lopes Dias nos nove livrinhos, repletos de ilustrações, Etnografia da Beira (1926-1969, reed. fac-símile 1971). O mundo do rio Paiva foi captado com toda a sua magia por Inácio Nuno Pignatelli (1998), e surpreende a densa obra do juiz conselheiro Mário de Araújo Ribeiro O maciço da Gralheira (1991). É novamente é a sensibilidade poética que tudo governa. Na Beira mais interior, já perto do rio Douro, eis uma jóia modelo de uma monografia regional: a do Freixo de Numão, publicada por J. A. Pinto Ferreira em 1954, livro de tal beleza (com fotos comoventes) que dói virar as páginas. Indo para o outro extremo do “retângulo rebelde”, um pequeno livro oferece uma galeria de fotos inéditas: Palheiros de Mira, de Raquel Soeiro de Brito (1960), registado antes do Estado ordenar substituir ao longo da costa portuguesa a beleza da madeira pelo negócio do cimento. E já que estamos à beira-mar, não podemos esquecer o extraordinário livro Os pescadores, de Raul Brandão, uma viagem impactante por todas as comunidades heróicas da costa portuguesa, publicado em 1923 e muitas vezes reeditado (acrescentemos para o que nos interessa, na biblioteca deste genial escritor, o seu Portugal pequenino, de 1929, reed. 1985).

O Alentejo abunda em grandes livros, como foi o caso de Trás-os-Montes e como convém àquelas que Miguel Torga considerava as terras com mais carácter de Portugal –sem que isso implique desprezo por nenhuma outra. Paralelo ao livro de Torga e Dussaud está o do Miguel Torga com o também fotógrafo Eduardo Gageiro: Alentejo (1988), onde faltam apenas algumas imagens dos comboios a percorrer as vastas planícies alentejanas. Que fotos! Que mundo incrível, como o revelado por Dussaud! Foram produzidas entre 1974 e 1985, e de todo aquilo pouco ou nada resta, como ainda menos do impressionante A través dos campos de José da Silva Picão, desde que foi publicado em 1903 (reed. 1983). Mas prefero sempre viajar por qualquer um destes livros a fazê-lo nos comboios climatizados e de janelas hermeticamente fechadas do Portugal de hoje. E como é bonito viajar por belos livros, como o de Fernando Varanda Mértola no Alengarve. Tradição e mudança no espaço construído (2002), que nos transporta para um dos espaços mais puros e intensos da terra portuguesa. Este livro sobre Mértola trata não só da vila, mas de toda a sua região, pelo que não falta a prodigiosa Mina de S. Domingos, sobre a qual temos uma obra-prima: Mina de S. Domingos. 150 anos de história, repleto de fotos (2004); As Recordações de Heitor Domingos também comovem quem, como eu, amou aquela terra, tão imponente quanto amarga (são dois livros: Da Mina ao Pomarão –1995– e Velhos são os trapos –1996–, porque o anunciado Viúvas da Mina creio que nunca saiu). Finalmente, um dos dicionários mais deliciosos que se podem ler é o de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva, Tratado das alcunhas alentejanas (2013), que me permite uma subsecção para citar também como ferramenta essencial o Dicionário de expressões populares portuguesas de Guilherme Augusto Simões (1993).

Antes da invasão da barbárie turística no Algarve, que já digo na Lusitania fantasma deve ter sido uma terra de uma beleza avassaladora, só registo os livros com imagens dos anos 70, quando tudo ainda estava vivo e a bater, pelo fotógrafo Michael Howard, Algarve (1983) e Algarve. Profile (1985), este último com algumas notas, como Portugal. Profile(1986).

Dos inúmeros estudos olisiponenses, o topo é sem dúvida a obra em 15 volumes Peregrinações de Lisboa, do grande Norberto de Araújo. Foi publicado em 1938-1939 (reeditado em 1993), mas mesmo o camponês lisboeta que queira conhecer realmente, ou seja, pelo sofrimento (agora mais do que nunca!), sem concessões, a cidade, tem o dever de fazê-lo com estes fascículos na mão, guiado pelos seus mapas e pelo amor apaixonado do mais inspirado conhecedor da cidade branca, também autor do complementar Legendas de Lisboa (1994). Mais específico, mas delicioso, é o grande livro de Helder Carita Bairro Alto. Tipologia e modos arquitectónicos (1994). E agora a um nível mais pessoal, vou elogiar um livro que mudou a minha vida: Tabernas de Lisboa, de Mário Pereira e Luís Pavão (1981). Embora no final dos anos 80, quando servia de vade mecum, muitas daquelas tabernas já tivessem desaparecido, quanto mais hoje, vale a pena lê-lo em si, como evocação de um mundo popular e proletário já desaparecido, e também porque alguns redutos persistem aqui e ali (mais fotos de Luís Pavão podem ser encontradas em Fado português, 2005). A melancolia é ainda maior em As tascas do Porto, de Raul Simões Pinto (2007), um lamento ainda mais ácido pela perda de um mundo genuíno. (Se há um livro que gostaria que existisse, não é outro senão aquele que levasse o título Tabernas de Portugal, em 700 páginas e com fotos a granel).

Circulam por todo o país e não são de lugar nenhum. Leite de Vasconcelos fala deles na sua Etnografia portuguesa, mas há um grande livro antigo sobre os admiráveis ​​ciganos portugueses: Os ciganos de Portugal, de Adolfo Coelho (1892, reed. 1994).

O Portugal popular antes do massacre da construção vive nos três volumes da Associação dos Arquitectos Portugueses Arquitetura Popular em Portugal. A enorme obra concluiu em 1961 (reed. 1998) e foi, sob todos os pontos de vista, exemplar. Uma obra insubstituível, embora seja complementada por Construções primitivas em Portugal (1969, reed. 1988), de Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira, e Arquitetura Tradicional Portuguesa (1992), pelos dois primeiros. No que diz respeito à saborosa arquitetura nobre, a obra clássica é Solares portugueses, de Carlos de Azevedo (1969).

Ao referido trio –Veiga de Oliveira, Galhano e Pereira– devemos livros capitais, nomeadamente O linho (1978), Alfaia agrícola portuguesa (1983) e Sistemas de moagem (1983), com seriedade e exaustividade de conteúdos e documentação fotográfica que já vale por cada livro. Fernando Galhano, dessenhista do grupo, é autor dos maravilhosos Objetos e alfaias decoradas (1968) e Desenho etnográfico (1985); Benjamin Pereira, da obra de referência sobre as preciosas máscaras tradicionais portuguesas (Máscaras portuguesas, 1973, com fotos admiráveis a cores); e o infatigável Veiga de Oliveira também se interessou pelas festas e pela música, concluindo as duas obras-chave sobre ambos os temas: Festividades cíclicas em Portugal (1984) e o luxuoso Instrumentos musicais populares portugueses (1964, reeditado em 2000). Veiga de Oliveira, com Galhano e Pereira, estudou as Actividades agro-marítimas em Portugal (1975, reed. 1990), e, com o primeiro e Jorge Dias, os Espigueiros portugueses (1994), ambos livros com fotografias sublimes.

Num povo com um fervor inato pela música, e que possui um sentido lírico e lúdico tão intenso, um capítulo discográfico teria vindo aqui bem a calhar, mas como já lhe dedico uma página, limito-me aos livros, que hoje já vêm com seus discos compactos correspondentes. Às duas já referidas obras de Veiga de Oliveira (pois não há verdadeira festa sem orgia musical) há que acrescentar mais algumas. No domínio do fado, consideramos definitiva a tese sobre as suas origens e o seu desenvolvimento que José Alberto Sardinha defende em A origem do fado (2010, com quatro discos), livro com mais de 500 páginas repletas de informações sobre música rural, muitas delas míticas e ignotas. A impressionante obra de José Alberto Sardinha é uma das grandes manifestações culturais de Portugal no século XXI, pois, depois da fornada de discos estupendos que apareceram no Jornal de Notícias, em 2000 publicou o gigantesco Tradições musicais da Estremadura (com três discos), em 2001 Viola campaniça. O outro Alentejo (com dois discos, e aprofundando ao máximo numa das zonas mais desconhecidas de Portugal) e em 2005 Tunas do Marão (com quatro discos que abordaram uma das mais belas e melancólicas músicas, que aliás eu já havia surpreendido em cassetes), além do livro, com dois discos, sobre um gaiteiro: Joaquim Roque. O último gaiteiro tradicional de Torres Vedras (Tradisom, 2008), e o dedicado às danças de Corpus Christi em Penafiel, ambos na Tradisom. No mesmo nível só coloco Momentos vocais do Baixo Alentejo, de João Ranita da Nazaré (1986, com um único disco em vinil), Raízes musicais da Terra de Miranda (2001, com um disco), editados em Vila Nova de Gaia pela editora Filhos da Terra, responsável por um fantástico lote de discos de música tradicional, e, absolutamente excepcional, o livro com três discos Alentejo: vozes e estéticas em 1939/1940. Edição crítica dos registros sonoros realizados por Armando Leça, publicado em 2015.

Em 2010 e 2011, Sons da Terra produziu duas grandes peças que integram todas as coleções de António Maria Mourinho, um conjunto impressionante em quantidade e qualidade, uma verdadeira loucura que empalidece os tesouros de Ali Baba. O esforço de Mário Correia, salvador destes arquivos, tem sido imenso, pois ao mesmo tempo continua a divulgar registos da Terra de Miranda e a publicar livros cativantes como Tamborileiros e fraiteiros da Terra de Miranda (2013), Historias de vida dos gaiteiros do planalto mirandês (2012), Tiu Pepe, gaiteiro da Freixiosa ou Toques de sinos na Terra de Miranda (2012).

Voltando aos fados, pouco nos importa o magro ou nenhum rigor de Tinop (Pinto de Carvalho) em muitas das abordagens da sua História do fado (1903, reed. 1984), por se tratar de um livro delirante, pérola do humor lusitano mais castiço, tanto pelo seu autor como pela sucessão de personagens e anedotas malucas que por ele vão desfilando. Claro que a data não permitiu que nela aparecessem os dois protagonistas principais desta música, ou seja, Alfredo Marceneiro e Amália Rodrigues, mas sobre o primeiro temos o livro de Vítor Duarte Recordar Alfredo Marceneiro (1995, mais o mais curto Alfredo Marceneiro... Os fados que ele cantou, de 2001), e sobre a deusa do fado Amália. Uma biografia, de Vítor Pavão dos Santos (1987). No que diz respeito ao registo fotográfico, o livro que leva o bolo é Portugal do fado (1960).

No Portugal antigo, todos cantavam. Os cancioneiros são inúmeros, e a poesia que eles oferecem, principalmente a de suas cantigas de amor, de uma sensibilidade e delicadeza inigualável ​​em qualquer outra língua. Entre os repertórios maiores, citarei o de Leite de Vasconcelos (Cancioneiro popular português, 1983, três vols.), o de Michel Giacometti (mesmo título, 1981, com belas fotos), o de António Maria Mourinho da Terra de Miranda (Cancioneiro tradicional e danças populares mirandesas, 1984) e, no que diz respeito aos romances transmontanos, os de Anne Caufriez Le chant du pain. Trás-os-Montes (1997) e Romances du Trás-os-Montes (1998, com um registo das canções mais telúricas que possamos imaginar).

São também vastos os repertórios de contos, que já profusamente recolheu Leite de Vasconcelos, e pouco antes dele Teófilo Braga (reed. em 2 vols. em 1987, Contos tradicionais do povo português), acrescentando às suas colecções a de Alda da Silva Soromenho e Paulo Caratão Soromenho, Contos populares portugueses (2 vols., 1986), onde constam muitos dos que antes eram censurados. Tesouro à parte são os contos das mouras encantadas, incontáveis ​​em Portugal, e agora inventariados em A mitologia dos mouros (2006) de Alexandre Parafita, que, em Património imaterial do Douro (3 vols., 2010, que título!) passa a reproduzir, com grande trabalho de campo, os mais variados contos das gentes de Tabuaço, Carrazeda e Vila Flor.

Cheias de peças inusitadas estão as duas obras incontornáveis ​​de José Leite de Vasconcelos, Teatro popular português (1979, três vols., o segundo excepcional), e Azinhal Abelho, Teatro popular português (1968-1973, seis vols.).

A arte popular portuguesa, que outrora um Benjamin Péret desprezou por ignorância, é riquíssima e poética. Em dez livrinhos publicados entre 1987 e 1997, Maria Natália Almeida d'Eça tratou de todas as províncias, e embora por vezes apareçam artistas não tradicionais, nunca falta o melhor, com destaque para os volumes do Alto Douro e Trás-os-Montes (Roteiro artesão português). Outra obra em pequenos volumes (nove) foi coordinada por Helder Pacheco nas décadas de 1980 e 1990: Artes e tradições de Portugal, com capítulos fascinantes e, em particular, monografias bem arredondadas sobre Barcelos e Vila Real. O ponto alto da matéria são os três tomos luxuosos A arte popular em Portugal (c. 1960), coordenados por Fernando de Castro Pires de Lima. Como monografias destacam-se duas obras: Ouro popular português, de Amadeu Costa e Manuel Rodrigues de Freitas (1992), e, sobretudo, A arte dos jugos e cangas do Douro-Litoral, de Armando de Mattos (1962).

Por vezes é difícil separar nitidamente o popular do culto, e por isso nomeio aqui uma obra que no seu tempo me surpreendeu pela sua abordagem inovadora: Oriente e Occidente nos interiores em Portugal (c. 1990), de Helder Carita e Homem Cardoso. Demonstraram perfeitamente a originalidade da arte portuguesa, de forte cunho oriental, e defenderam com razões o valor da azulejaria, subestimada pela crítica eurocêntrica de José Augusto de França. Quanto aos azulejos, sem os quais Portugal não é Portugal, a bibliografia é enorme, e os especialistas são muitos, limitando-me a apontar um livro muito especial: Azulejaria barroca portuguesa. Figuras de convite, de Luísa Arruda (1993).

Outro livro único sobre a azulejaria é Aspectos azulejares na arquitectura ferroviária portuguesa (2001), de Rafael Salinas Calado e Pedro Vieira de Almeida, junto ao qual coloco apenas dois livros sobre "comboios": Comboios portugueses. Um guia sentimental, de Francisco José Viegas e Maurício Abreu (1988), com fotos fabulosas, ou o segundo não as teria tirado, e Estações de caminhos de ferro através do bilhete postal ilustrado (2000, com o semelhante Estações ferroviárias portuguesas em postais ilustradas antigas de Jorge Branco, 2006).

Azulejos, comboios... castelos. Como grande publicação, Júlio Gil (autor, na mesma editora Verbo, de dois belos livros que formariam uma trilogia com esta: As mais belas vilas e aldeias de Portugal e As mais belas cidades de Portugal) oferece-nos Os mais belos castelos de Portugal (1983), enquanto C. T. North, nos dois livrinhos que compõem o seu Guia dos castelos antigos de Portugal (2002), sem a retórica de Gil e sem rodeios ao atacar as atrocidades do último Portugal, faz um inventário completo e inteligente dos castelos do país (esta obra merece aparecer em formato maior).

A religião popular portuguesa, impregnada de paganismo, sobretudo antes do aparecimento do fenómeno de Fátima, é do maior interesse. Minha obra favorita é O grande livro de S. Cipriano, com Sua Majestade o Diabo sempre em ação; seria preciso ter um exemplar o mais antigo possível, mas vamos nos contentar por enquanto com o da editora Lello & Irmão (circulam outras “versões” espúrias). Dois grandes livros sobre o assunto: Os ex-votos da igreja do Senhor Jesus da Piedade de Elvas (1972, após O Senhor Jesus da Piedade de 1965), de Eurico Gama, com descrições de surpreendentes ex-votos pintados, e o volumoso catálogo O trabalho e as tradições religiosas no distrito de Lisboa (1991).

Resta-me apenas citar cinco obras de ouro. Três, sobre a façanha do bacalhau: A epopeia dos bacalhaus (1994) de Francisco Manso e Óscar Cruz, Faina maior. A pesca do bacalhau nas águas da Terra Nova (1996) de Francisco Marques e Ana Maria Lopez e Gil Eanes. Histórias do “fiel amigo” (2001) de Ângelo Silva (complementar: Alain Villiers, A campanha do Argus, 1951; Manuel de Oliveira Martins, Viana e a pesca do bacalhau, 2013; e as memórias de Valdemar Aveiro). Uma sobre o maior bandido romântico de Portugal: Zé do Telhado (1980), de José Manuel de Castro (dividida em dois belos volumes, já em 2002-2003). E a quinta, para finalizar com a própria cor do ouro, sobre os relógios de sol, publicada pelos Correios: Relógios de sol (2005).

Os complementários

Eles ficam aquém da quintessência, embora algumas páginas certamente a atingem. Por vezes são livros redondos, mas noutros há que aturar os disparates da época, produto primeiro do biempensantismo que caracterizou os tempos da "outra senhora" e depois do não menos abjecto que o foi substituindo durante a posterior catástrofe.

Guias e livros de viagens

À descoberta de Portugal (1982, monumental, com textos muito irregulares), nas Selecções do Reader's Digest, que viria a publicar Por terras de Portugal (1985, interessante apenas pelas fotos), Viagens na nossa terra (1997, muito côr-de-rosa) e Locais a visitar em Portugal (2001). Percursos. Paisagens e habitats de Portugal (2000, com demasiada “ciência”). E, bem acima dos anteriores quanto à qualidade textual, Estradas de Portugal, velhos fascículos (nove) de Raul Proença posteriormente atualizados por Sant'Anna Dionísio, e portanto muito próximos do Guia de Portugal –retratando o Portugal das estradas quando estas ainda podiam ser bonitas.

Nelson Correia Borges, Coimbra e região (1987; é o melhor guia da colecção Presença “Novos Guias de Portugal”, seguindo-se os de O grande Porto, de Helder Pacheco, e Aveiro. Do Vouga ao Buçaco; os do Alto Douro, Algarve, Alto Minho, Beira Baixa, Algarve, Alto Minho ou Beira Baixa, embora sempre bem ilustrados, estão cheios de concessões). Regina Louro, Baixo Alentejo (1990; nestes guias Mobil, já mencionamos os de Hipólito Raposo, enquanto o do Algarve é bom, embora um pouco superficial, e os restantes servem apenas para fotos e pouco mais). Carlos Gil e João Rodrigues, Pelos caminhos de Santiago (1990). Caminhos portugueses de peregrinação a Santiago (1995).

Antero de Figueiredo, Recordações e viagens (1905). João Paulo Freire (Mário), Por terras do Norte (1926). José Leite de Vasconcelos, De terra em terra (1927). Guerra Maio, Portugal desconhecido (1945). Cruz Louro, Terras de Portugal (1973, desenhos). Mário Nunes, Nos caminhos do patrimônio (1989, riquíssimo). Viale Moutinho, Aquém e além montes. Textos de andarilho (1992). Jorge Nunes e Manuel Nunes, Portugal. Por montes e vales (2003, um livro apaixonante, apesar dos seus autores, e com belas fotos).

Uma secção bibliográfica específica é a dos antigos viajantes que deixaram testemunhos da sua passagem pelo país. Tal como no caso das Ilhas Canárias (etc.), os seus depoimentos só oferecem, regra geral, o interesse das curiosas informações que prestam, e que mesmo assim costumam ser mais do que duvidosas, carregadas de superficialidade, deturpação e preconceito. Um desfile de imbecis e caricaturistas alimenta, por exemplo, o antológico Este é o reino de Portugal de José Brandão (2013), à exceção de um Andersen, cujo belo livro Uma visita em Portugal em 1866 foi publicado de forma independente em 2001 (nem Beckford nem Southey safam-se nas páginas selecionadas). Como volume individual, destacar-se-ia o da viagem de James Murphy em 1775 (Viagens em Portugal, 1998), e como antologia O Portugal de D. João V visto por três forasteiros (1983).

Dos viajantes europeus já no século XX, há livros úteis, por vezes com ilustrações inestimáveis, de Jo Van Der Elst (s.d.), Paul de Laget (1932), Jan e Cora Gordon, (Portuguese somersault, 1934, nos moldes de John Gibbons). André Villebouef (Le coq d'argent, 1939), Pierre Birot (1950), Yves Bottineau (1956), o notável crítico de arte Max-Pol Fouchet (Portugal des voiles, 1959) e Rodney Gallop (A book of folkways, 1961). Algumas páginas de importantes escritores, como Philippe Soupault ou Valéry Larbaud, também merecem destaque.

Monografias

Vamos começar com os livros que tratam de determinadas áreas geográficas e continuar com as monografias locais.

José Augusto Vieira, O Minho pittoresco (1886-1887). Visconde de Villa Maior, O Douro Ilustrado (1876, reed. fac-símile 1990). Manuel Monteiro, O Douro (1911, reed. fac-símile 1998; luxuoso e de referência, como os anteriores). Correia de Azevedo, O Douro maravilhoso (c. 1970, com fotos sensacionais). Manuel Mendes, Roteiro sentimental. Douro (1967). António Barreto, Um retrato do Douro (1984). A. L. Pinto da Costa, Alto Douro. Terra de vinho e de gente (1997, magnífico). Luís Madureira, Os romanos em Trás-os-Montes (1962, id.). Terras do Norte na Literatura Portuguesa (1990) e Terras da Beira na Literatura Portuguesa (1991), com fotos de Maurício Abreu, embora não localizadas. Nelson Rodrigues Pereira, Um xis de Montemuro (2001, fino). Américo Oliveira Filomeno Silva, Montemuro. A última rota da transumância (2000, apesar do autor). Jorge Ventura, Montemuro. Do Talegre à Pedra Posta (2000, id., além de ter sido publicado com o apoio cínico da sinistra Eólica da Cabreira). Henriques Almeida, Terras do Demo. Itinerário Aquiliano (1997, fino). Carlos Alberto Marques, A bacia hidrográfica do Côa, seguido de Algumas notas etnográficas de Riba-Côa (1995, e realçado por fotografias de Duarte Belo). Mário Simões Dias, Memórias da Beira Côa (1998). Terras do Côa. Da Malcata ao Reboredo (2013). Sá Coixão e Rodrigues Trabulho, Por terras do concelho de Foz Côa (1975). Leonel Abrantes, Novas portas de acesso à Serra da Estrela (1997). Jorge Gaspar, As feiras de gado da Beira Litoral (1970, pelas fotos, extraordinárias). Maria Micaela Soares, Mulheres da Estremadura (1977), Varinos (1989), Saloios (1990) e Literatura saloia, livrinhos esplêndidos e bem ilustrados. José Cortez Pimentel, Arrábida. História de uma região privilegiada (1992, magnífico). Manuel Joaquim Delgado, A etnografia e o folclore no Baixo Alentejo (1957, reed. 1985). Manuel Viegas Guerreiro e António Machado Guerreiro, Literatura popular do distrito de Beja (1986). João Falcato, Elucidário do Alentejo (1953). Carminda Cavaco, O Algarve oriental (2 vols., 1976). Manuel da Fonseca, Crónicas algarvias (de 1968, mas publicado em 1986; com sensibilidade poética). Glória Marreiros, Um Algarve outro (1991, magnífico). Jacinto Palma Dias e João Brissos, O Algarve revisitado (1994, id.).

As chamadas "monografias regionais" são uma fonte de informação em primeira mão. Sua qualidade é muito desigual, do exemplar ao abominável. Destaco as mais interessantes entre as que conheço, incorporando à lista alguns trabalhos que tratam apenas de aspectos específicos. A colecção Cidades e Vilas de Portugal, da editora Presença, tem estudado muitas populações nas últimas décadas, com alguns bons volumes, como os de Cascais, Óbidos, Azeitão, Tomar e Elvas (em comparação com outros de predominante abordagem histórico-artística), e no Algarve, embora já desactualizado (e na altura criticado por Leite de Vasconcelos), refiram-se as numerosas monografias de Ataíde de Oliveira, como as de Alvor (1907), Porches (1912) ou Luz de Tavira (1913). De caráter delirante são as muitas dedicadas às terras do Douro por Guido de Monterey. Com material valioso, mas que, por uma razão ou por outra, não me parecem notáveis, há de Aguiar da Beira, Aguiar de Sousa, Alcains, região de Alcobaça, Alcochete, Alcoutim, Alfaiates, Algodres, Aljustrel, Alvorninha, Amieira, Ameixial , Angeja, Aranhas, Arganil, Armamar, Aveiro, Avintes, Barcelos, Bragança, Carção, Envendos, Esmoriz, Esposende, Fafe, Folgosinho, Fornos de Algodres, Freixo de Espada à Cinta, Lapas, Leiria, Linhares, Lousã, Macedo de Cavaleiros, Manteigas, Matosinhos, Melgaço, Mexilhoeira Grande, Moncorvo, Monchique, Nisa, Outeiro Seco, Palácios, Paredes de Coura, Pedrógão Grande, Penamacor, Penedono, Peniche, Ponte de Lima, Porto de Mós, Ranhados, Sanfins do Douro , Santa Eulália (Oliveira do Douro), Seixal, Sernancelhe, Serpa, Sesimbra, Sortelha, Terena, Tó, Valverde, Vila Chã, Vila Flor, Vilar do Pinheiro, Vila Real de Trás-os-Montes, Vilarinho dos Galegos, etc.

João Evangelista, A-dos-Negros, Mike Weber, Marés da Aguda. A pesca “artesanal” na praia da Aguda (1991, livro magnífico). Adolfo Portela, Águeda. Ana Maria Olivença Trindade dos Santos e José Casimiro Rodrigues, Aljubarrota (1985). Alexandre M. Flores, Almada Antiga e Moderna. Roteiro iconográfico (3 vols., 1987-1990). Robin Jenkins, Morte de una aldeia (análise lúcida da vulgar destruição pelo progresso da aldeia do Alto, em Monchique), 1979. António Dias Madureira, Danças e vivências intemporais. Alvarenga (2006). Eugénio de Castro Caldas, Terra de Valdevez e montaria do Soajo (1994, sólido). António Vilar, O volframio de Arouca (1998, id.). João Sarabando, Cagaréus e ceboleiros. Aveiro. Usos e costumes (1997). Carlos Lopes, Baçal. A aldeia e o Abade (2003). António Eloy e Isabel Galvão, Barrancos, resiste! (2001, com bons golpes à intolerância animalista urbanita). Maria Antonieta Garcia, Os judeus de Belmonte (1993). Maria Emília Campos Duarte Carvalho, Bisalhães. Anatomia de um povo (1999, um belo retrato desta aldeia cerasmista). João Ribeirinho Leal, Achegas para a monografia de Cabeço de Vide (1981). Cacia e o Baixo-Vouga (1984). Paulo Ferreira da Costa e Helena Sanches Galante, Cadaval (1995, exemplar). José Aguilar, Carrazeda de Ansiães e su termo (1980). Antonio Barroso de Oliveira, Carrazedo de Montenegro (1990). Alberto Correia, Alexandre Alves e João L. Inês Vaz, Castro Daire (1986). Manuel Ramos de Oliveira, Celorico da Beira (1997, mas dos anos 50). Grupo Cultural Aquae Flaviae, Roteiros de Chaves (1999). Joaquim Trabulo, Chãs de Foz Côa (1992). Mário Nunes, Cataventos de Coimbra (2000) e Ruas de Coimbra (2003). B. M. Costa e Silva, Estudantes de Coimbra. Episódios burlescos (1903). José Maria Gaspar, Condeixa-a-Nova (1983). Heraldo Bento, O rio Sorraia e Coruche (1996). Joana Lopes Alves, A linguagem dos pescadores da Ericeira (1965). João Quinta, Espinho (1999). Gil do Monte, Figuras populares de Évora (1984). Joaquim Palminha Silva, Évora. Cidade esotérica e misteriosa (2005, obra séria). Marques Crespo, Estremoz e o seu termo regional (1950, reed. 1987). José J. Silva, Monografia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo (1992). Eurico Gama, Roteiro antigo de Elvas (1963-64, dois vols.). Carlos Medeiros, Figueiró dos Vinhos (2002). Lamy Laranjeira, O Furadouro (1980). Maria Adelaide Godinho Arala Chaves, Do mar e da terra. Palheiros e pescadores do Furadouro e Ovar (2008). Mea Villa de Gaya (1909, reed. 1987). Gabriel Frada, Namoro à moda antiga. O amor na Gândara (1992, obra-prima). Memórias do Ginjal (2011). Alves Redol, Glória. Uma aldeia do Ribatejo (1938, um verdadeiro clássico, de um grande escritor). Alberto Vieira Braga, Curiosidades de Guimarães (5 vols., 1927-1965, reed. 1980; magnífico o de Feiras e mercados). Carlos Valle, A freguesia de S. Maria de Gulpilhares (1987). Seomara da Veiga Ferreira e Maria da Graça Amaral da Costa, Etnografia de Idanha-a-Velha (1970, esplêndida). Amadeu Eurípedes Cachim, Os ílhavos, o mar e a ria (1988). F. J. Cordeiro Laranjo, numerosas publicações muito competentes sobre Lamego. Paula Cristina Ferreira Silva, Os palitos na freguesia de Lorvão (2000, uma jóia). Sérgio Sá, Aspectos decorativos nas portas das casas de lavoura da antiga Terra da Maia (2007, id.). Isabel Silvestre, Memória de um povo (2011, cultura oral de Manhouce da magnífica vocalista do grupo desta aldeia, que também nos oferece páginas de intensa emoção), Júlio António Borges, Mata de Lobos (1989, sólido, adicionando em 2008 outro livro sobre esta terra raiana Álvaro Carvalho: Rio de memórias). Adriano Vasco Rodrigues, Terras da Meda (1983). A. Bento da Guia, Os oito concelhos de Moimenta da Beira (1984) e As vinte freguesias de Moimenta da Beira (1986). José Leite de Vasconcelos, Mondim da Beira (1933, mais além de todos os elogios). António Maria Cunha, Monografia geral sobre o concelho de Monforte (1985, uma beleza, cheia de sensibilidade e com desenhos do autor). Maria Leonor Carvalhão Buescu, Monsanto. Etnografia e linguagem (1958, reed. 1984, clássico). As belas monografias da Câmara de Montijo, uma dezena nos anos 90, com Memórias Fotográficas em 2002. Lopes Correia, Mora e o seu concelho, 1991. Moura. Anos 30 (1988, fotos). Joaquim A. Castelinho, Mós do Douro (1981). João Luís Teixeira Fernandes, Murça (1985). Gerard Fourel e Gilles Cervera, La mémoire blanche. Negrões (1986, fotos). Carlos Consiglieri, Olivença. Reflexões sobre usurpação e aculturação (2001). Maria Adelaide Godinho Arala Chaves, Da ria e da terra. A cale de Ovar (2012). Manuel Vieira Dinis, Etnografia de Paços de Ferreira (1989). Manuel Viegas Guerreiro, Pitões das Júnias (1980, clássico). Viriato Barbosa, Póvoa do Mar (1969). M. Assunção Vilhena, Gentes da Beira Baixa (1995, trabalho de campo excepcional em Proença-A-Nova), Leonor Osório de Castro Trigueiros de Aragão, Quintãs. Uma aldeia da Beira Baixa (1994). Os dois livros sobre Resende: Monografia do su concelho, de Joaquim Caetano Pinto (1982), e Resende e a sua história, de Joaquim Correia Duarte (1994). Riachos. Rostos da terra (1993, fotos). Marinhas de Sal do Rio Maior (1977). Joaquim Manuel Correia, Terras de Riba-Côa. Memórias sobre o concelho do Sabugal (1946, excepcional!). J. Gonçalves Monteiro, S. João da Pesqueira (um livro de 1992 e outro de 1993, ao qual se junta uma monografia de Tabuaço em 1991). Acácio C. Oliveira, Sarzedas e seu termo (1987). Mário Marques de Andrade, Subsídios para a monografia de Segura (1949, reed. 1988). Carlos Ferreira, Sendin. Tierra de Miranda. Maria Alfreda Cruz, Pesca e pescadores em Sesimbra (1966). Maria Pinto dos Santos A. Carrola e Gabriel dos Santos, Sobral de S. Miguel (1993). Alberto Correia, Tabuaço (1997). Joaquim R. Bicho, Património artístico do concelho de Torres Novas (1987). Paula Bordalo Lema, Tourém (1978, magnífico). Lopes Correia, Trancoso (1989). Manuel Veigas Guerreiro, Unhais da Serra (1982). José Luis Gonçalves, Valezim (2001). António Veloso Martins, Monografia de Valpaços (1990). Amadeu Costa, três volumes de "Folclore" e quatro de "História e memórias" de Viana (anos 90). Afonso do Paço, Etnografia vianesa (1994). José A. Palma Caetano, Vidigueira e o seu concelho (1994). Francisco Oneto Nunes, Vieira de Leiria. A história, o trabalho, a cultura (1993). Augusta Panarra Inácio, Vila Boa do Mondego (2013, memórias muito boas e emotivas). Eurico Belchior, Vilar de Amargo (1985, excelente). Francisco Valente Machado, Monografia de Vila Verde de Ficalho (1980, id.).

Lisboa

Pinto de Carvalho (Tinop), Lisboa d'outros tempos (2 vols.: Figuras e cenas antigas e Os cafés, 1898-1899, reed. 1991). Lisboa (p. do séc. XX, reed. 1987, livro-álbum, compilação e estudo de Alfredo Mesquita, com 400 gravuras; puro deleite). Luís Chaves, Lisboa nas auras do povo e da história. Ensaios de etnografia (4 vols., 1961-1969). Ribeiro Christino, Estética citadina. Anotações sobre aspectos artísticos e pitorescos de Lisboa (artigos de 1911; 1990). José Victor Adragão, Natália Pinto e Rui Rasquilho, Lisboa (1985). Mário Costa, Danças e dançarinos em Lisboa (c. 1959). Marina Tavares Dias Lisboa desaparecida (9 vols., 1987-2004, com algumas maravilhas e grande riqueza iconográfica), Os melhores postais antigos de Lisboa (1995), Os cafés de Lisboa (1999), História do electrico da Carris (2001). Baltazar Matos Caeiro, Os conventos de Lisboa (1989), Arcos e arcadas de Lisboa (1991). O Rossio (1990). A feira da Ladra (1990). Ana Cristina Leite e João Francisco Vilhena, Pátios de Lisboa (1991). Joaquim Oliveira Caetano, Chafarizes de Lisboa (1991). Eunice Relvas e Pedro Bebiano Braga, Coretos em Lisboa (1991). Elza Rocha, José Eduardo Agualusa e Fernando Semedo, Lisboa Africana (1993). Lojas antigas em Lisboa (2 vols., 1994). Jorge Ribeiro e Júlio Conrado, Lisboa. As lojas de um tempo ao outro (2 vols., 1994 e 1997). Lisboa ribeirinha (1994, fotos). João Paulo Freire (Mário), Alcântara (1929). José Silva Carvalho, Madragoa. Sons e arquiteturas (1997). Roteiro do fado de Lisboa (2001, apenas para informação e fotos).

Porto

Helder Pacheco, Porto (1984), Tradições populares do Porto (1985), Porto. Sítios, lembranças, emoções (1992), Ó meu santo protetor. Santo António nas lojas do Porto (1990) e O carro elétrico no Porto (1995). Manuel Dias, A Ribeira e Gaia do outro lado (1991). Germano Silva, Porto desaparecido e insólito (2015). Marina Dias Tavares e Mário Morais Marques, Porto desaparecido (2002). Manuel Paula, Porto gráfico (2004). Lojas de tradição do Porto (1993). Luís Aguiar Branco Lojas do Porto (2 vols., 2009).

Mar e rios

João Conde Veiga, Os mais belos rios de Portugal (1994, com ótimas fotos de Augusto Cabrita). Ivone Baptista de Magalhães, Embarcações tradicionais (1998). Octávio Lixa Felgueiras, Sobre a proteção mágica dos barcos (1978). Antero Leite, As pesqueiras do rio Minho (1999). Helena Lopes e Paulo Nuno Lopes, A safra (1995). António J. Nabais, História do concelho do Seixal. Barcos (1982). Jaime Vilar, Barco moliceiro –que futuro? (1983). Ana Maria Lopes, Moliceiros. A memória da ria (1997). Clara Sarmento, Os moliceiros da ria de Aveiro. Quadros flutuantes (1999). Francisco Correia Figueira, Veleiros de Portugal. Octávio Lixa Filgueiras, Traineiras (1994). Todos estes livros são irrepreensíveis, para não falar deste delicioso clássico da literatura portuguesa: Praias de Portugal (1876), do grande Ramalho Ortigão, cuja obra, aliás, como as de Teixeira de Pascoaes, Aquilino Ribeiro ou Miguel Torga, está repleta de belos apontamentos sobre a terra e as gentes de Portugal.

Miscelânea etnográfica

Os etnógrafos oitocentistas deixam muito a desejar (em geral desprezavam o povo, a quem queriam “educar”, isto é, liquidar), mas fornecem um material muito valioso: são Teófilo Braga (O povo português, 2 vols., 1885, reed. 1985), Adolfo Coelho (Obra etnográfica, 2 vols., 1993), Rocha Peixoto (Etnografia Portuguesa, 1990) e Consiglieri Pedroso (Contribuições para uma mitologia popular portuguesa, 1988). Todos publicados na coleção “Portugal de perto”, ed. Dom Quixote.

José Leite de Vasconcelos, Tradições populares de Portugal (1882, reed. 1986), Ensaios Etnográphicos (4 vols., 1891-1910), Estudos de etnografia comparativa. Signum salomonis. Uma figa. A barba em Portugal (1918-1925, reed. 1996) e Opúsculos (7 vols., 1928-1938), sem esquecer, pelo seu conteúdo por vezes etnográfico, Religiões da Lusitânia, actualizado por José Manuel Garcia, Religiões antigas de Portugal (1991). [Sobre o amado Mestre foi publicado em 2008. José Leite de Vasconcelos. Fotobiografia, com realização de Luís Raposo; e também sua correspondência com Orlando Ribeiro (2011) e o Abade Tavares (2016).] Claudio Basto, Silva etnográfica (1939). Augusto César Pires de Lima, As artes e os ofícios nas tradições populares (1947). Manuel Mendes, Roteiro sentimental. Os ofícios (1967). Fernando Castro Pires de Lima, Ensaios etnográficos (2 vols., 1969). Jorge Dias, Estudos de antropologia (2 vols., 1990, com belas fotos no segundo). Enciclopédia temática. Portugal moderno. Tradições, 1991, coord. Joaquim País de Brito). O voo do arado (1996, catálogo enorme, com ótimas fotos, mas ensaios universitários).

Retratos valiosos do povo português, com maravilhas, são os primeiros de Helder Pacheco: Património cultural português (1985), Rostos da gente (1987) e Nós, portugueses (1991).

Cancioneiros

José Leite de Vasconcelos, Poesia amorosa do povo português (1890). A. Thomaz Pires, Canções populares portuguesas (4 vols., 1902-1912). Firmino A. Martins, Folclore do concelho de Vinhais (2 vols., 1927, reed. 1987; clássico). Augusto César Pires de Lima, Cancioneiro popular de Vila Real (1928; é também autor de O livro das adivinhas, 1990). Fernando de Castro Pires de Lima, Cantares do Minho (1937), O amor na quadra popular (1945) e Cancioneiro (1962). Jaime Cortesão, O que o povo canta em Portugal (1942, reed. 1980). Alves Redol, Cancioneiro do Ribatejo (1950). Abel Viana, Para o cancioneiro popular algarvio (1956). Afonso Duarte, Um esquema do cancioneiro popular português (1958). Vergílio Pereira, Cancioneiro de Arouca (1959, reed. 1990). João Sarabando, Cancioneiro de Aveiro (1966). Fernando Lopes Graça, A canção popular portuguesa (1973). Maria Arminda Zaluar Nunes, O cancioneiro popular português (1978, estudo apenas). Manuel Joaquim Delgado, Subsídio para o cancioneiro popular do Baixo Alentejo (2 vols., 1980). Artur Coutinho, Cancioneiro da Serra d'Arga (1980). António Borges de Castro, Cancioneiro popular de Mondim de Basto (1982). Carlos Valle, Relicário de cantigas (2 vols., 1982, Vila Nova de Gaia). Cancioneiro popular duriense (1983, uma delícia). Raízes da nossa terra. Cancioneiro transmontano (1985, introdução de Belarmino Afonso). António Lourenço Fontes e Altino Moreira Cardoso, Cancioneiro ancestral barrosão (2011). Maria da Ascensão Gonçalves Carvalho Rodrigues, Cancioneiro da Cova da Beira (3 vols., 1986-1999, outra delícia). Viale Moutinho, Terra e canto de todos. Vida e trabalho no cancioneiro popular português (1987, com boa bibl.). Carlos Nogueira, Cancioneiro popular de Baião (3 vols., 1991 e 2003) e Literatura oral em verso. A poesia em Baião (2000, estudo). Gabriel Gonçalves, Cancioneiro temático da Ribeira Lima (1992). Júlio António Borges, Cancioneiro popular de Figueira de Castelo Rodrigo (1999, magnífico). Altino Moreira Cardoso, Grande cancioneiro do Alto Douro (3 vols., 2006-2009).

Contos

Teófilo Braga, Contos tradicionais do povo português (2 vols., 1883, reed. 1987). Consiglieri Pedroso, Contos populares portugueses (1910, reed. 1985). Adolfo Coelho, id. (muitas reed.). Ataíde de Oliveira, Contos tradicionais do Algarve (c. 1910, reed. 2 vols., 1989). A. Nunes Pereira, Os contos de Fajão (1989). Bento da Cruz, Histórias da vermelhinha (1991, terras do Barroso). Contos populares portugueses ouvidos e contados no concelho de Palmela (1997, extenso trabalho de campo). Joaquim Alves Ferreira, Literatura Popular de Trás-os-Montes e Alto Douro (1999, 5 vols., quinto de “Lendas e contos infantis”). Contos populares e lendas dos cortelhões e plingacheiros (2001, nº 4 da revista Açafa de Vila Velha do Ródão, magnífico). Maria Antonieta Garcia, Lendas da Beira (2003). João Pavão Serra, Filhos da estrada e do vento (Contos e fotografias de ciganos portugueses) (1986). Diane Tong, Contos populares ciganos (1989).

Teatro

Maurício Guerra, Auto da Floripes (1982). Alberto A. Abreu, id. (2001). Duarte Ivo Cruz, Teatros de Portugal (2005). Alexandre Passos, Bonecos de Santo Aleixo (1999).

Religião

Moisés Espírito Santo, A religião popular portuguesa (1990, sólido, denso, ao contrário de outros livros seus posteriores, ilegíveis). Maria Micaela Soares, Os impérios populares (1983). Belarmino Afonso, Ex-votos e religiosidade popular no distrito de Bragança (1995). Do gesto à memória. Ex-votos (1999, catálogo dos museus da Guarda, Lamego e Grão Vasco). Aurélio Lopes, Religião popular no Ribatejo (1995). Luís Marques, Tradições religiosas entre o Tejo e o Sado (1996, sobre os círios do santuário da Atalaia). David de Morais, Religiosidade popular no Alentejo (2010, magnífica análise centrada na Aldeia da Venda, Alandroal).

Esoterismo

Paulo Pereira, Enciclopédia dois lugares mágicos em Portugal (15 vols., 2006). Eduardo Amarante, Portugal simbólico. Origens sagradas dos Lusitanos (1999), Roteiro megalítico. Percurso mágico em terras portuguesas (2003) e Mitos e lugares mágicos de Portugal (2008). Paulo Alexandre Loucão, Portugal. Terra de mistérios (2001). E para algumas curiosidades, os vários livros de Vanessa Fidalgo (2012-2014).

Festas

Jorge Barros e Soledade Martinho Costa, Festas e tradições portuguesas (8 luxuosos vols., do Círculo de Lectores, onde muito bem retratam as festas do país nos anos 80 e 90). Pierre Sanchis, Arraial: festa do povo. As romarias portuguesas (1983). João Vasconcelos, Romarias. Um inventário dos santuários de Portugal (2 vols., 1996-1998). Romarias e romeiros (1996, com fotos de Adriana Freire, embora não localizadas). D. Sebastião Pessanha, Mascarados e máscaras populares de Trás-os-Montes (1960). Almerinda Teixeira, O discurso e a máscara. Testamentos carnavalescos (1986). Aurélio Lopes e João Monteiro Serrano, O enterro do galo (2006). Sofia Adriana Maciel, A máscara de Ousilhão (1998). Hélder Ferreira e Teresa Perdigão, Máscaras em Portugal (2003). A festa popular em Trás-os-Montes (1995, actas de conferência). António Pinelo Giz, Inverno mágico. Ritos e mistérios transmontanos (2004). Júlio Duarte, Antologia do fogo de artificio (1996). Paula Costa Machado, Bugiada (2002, mas não à altura daquela festa desmedida).

Música

Alberto Pimentel, As alegres canções do Norte (1905, reed. 1989). Armando Leça, Música popular portuguesa (c. 1950). Pedro Homem de Mello, Folclore (1971). Tomaz Ribas, Danças populares portuguesas (1983). As cegadas no concelho do Seixal (1988). Manuel Anes Pereira, A arte folclórica em Carreço (1997). Maria Emília Campos Duarte Carvalho, O Douro. Músicas, danças e cantares (1994, magnífico, da maravilhosa autora do grande livro de Bisalhães). Ana Maria Azevedo, Os cantares polifónicos do Baixo Minho (1997). Bertino Coelho Martins, Músicas e danças tradicionais no Ribatejo (1997). Rafael Capela, Jazz do penico. Instrumento musical popular (2005, muito curioso).

Alberto Pimentel, A triste canção do Sul. Subsídios para a história do Fado (1904, reed. 1989). Fado. Vozes e sombras (1994, esplêndido catálogo do Museu de Etnologia). Eduardo Sucena, Lisboa, o fado e os fadistas (2002, 2.ª ed., capital). António Manuel Morais, Fado e tauromaquia no século XIX (2003, fino). Orlando Leite, Rota do fado, 2015 (na mesma linha: Guia das tascas, tabernas e casas de fado de Portugal, 2015, e Guia das tascas e tabernas de Portugal, 2012).

Em 2011, os programas de televisão de Michel Giacometti Povo que canta foram publicados em doze livretos com seus respectivos DVDs. Os livros pouco interessam, pois se dedicam a exaltar ad nauseam o personagem obscuro, mas os programas são um verdadeiro filão de prodígios, que fazem perdoar a desagradável voz mecânica da locutora e a presença do próprio Giacometti, um comunista sempre de cabeça baixa, que lutou contra uma ditadura sob a bandeira de outra ainda mais sinistra, que amava as cantigas do campo –já não tanto a música instrumental– ao mesmo tempo que defendia “a necessária industrialização” e se maravilhava com os aparatos tecnológicos, não para mencionar o repugnante momento em que fez a seus “informantes” –esses seres admiráveis, e às vezes até sublimes– a fatídica e humilhante pergunta etnológica: “Você sabe ler e escrever?”. Entre esses seres irrepetíveis: Catarina Chitas (Penha Garcia), António d'Assunção Lopes (Vila Verde de Ficalho), Maria Cândida Nunes (Tuizelo, nem sequer nomeada), Manuel Jaleca (Santo Aleixo), Lucinda Matos Neves (Teixoso), Adelino e Américo Coutinho (Sever do Vouga), António Rosa de Assunção (Salir), o colossal Francisco Domingos (Paradela, também no filme Veredas, de João César Monteiro), o tamborileiro do Monte de Belmeque, as mulheres de Estorãos e S Martinho de Crasto, etc., etc. Apesar da riqueza documental avassaladora (e sem dúvida há que agradecer a Giacometti por isso), é ainda mais admirável constatar que estes programas apenas levantam um pouco da espuma de um mundo prodigioso que os livros de José Alberto Sardinha mostram em toda a sua dimensão.

Arte popular

Emanuel Ribeiro, A arte do papel recortado em Portugal (1933; reed. 1999). Vergílio Correia, Etnografia artística portuguesa (1937, deliciosa, com um capítulo sobre a inusitada arte do sal). António Lino, O homem e a casa. A casa e o tempo (1990). M. M. de S. Calvet de Magalhães, Bordados e rendas de Portugal (1995). Teresa Perdigão, Tesouros do artesanato português (4 vols. –“Têxteis”, “Olaria e cerâmica”, “Madeiras e fibras vegetais”, “Papel, scrimshaws, pedras e metais”, 2001-2007). Helena Caetano e João Rodrigues, Os últimos artesãos do Vale do Paiva (2014). Manuel Carvalho Moniz, Da arte popular alentejana (1997, breve mas preciosa publicação, tal como Mobílias pintadas de Évora, de Manuel Carvalho Moniz, 1998).

Cerâmica

José Queirós, Cerâmica portuguesa (1907, reed. 1987).

São inúmeros os artigos, as brochuras e os livros sobre os lugares cimeiros da cerâmica portuguesa, como Coimbrões (Júlio Duarte), Fazamões (Alberto Correia), Molelos (id.), Évora (Gil do Monte), Bisalhães (Edgar Ferreira), Muge (J. R. dos Santos Junior), Bragança (Belarmino Afonso), S. Pedro do Corval (Manuel Carvalho Moniz), Mafra (Manuel J. Gandra), Estremoz (Joaquim José Vermelho), Barcelos (muitas publicações sobre Rosa Ramalho, Mistério, Júlia Cota...), Matosinhos (Helder Pacheco, Matosinhos: memória e coração da feira da louça, 1994), etc.

Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro (1985, catálogo); Sobre o criador de Zé Povinho, o estudo emblemático é o de José Augusto França (1982).

Azulejos

José Meco, Azulejaria portuguesa (1985). Amaro Neves, Azulejaria antiga em Aveiro (1985). Jacqueline Hengl e Veronica Hustinx, Portugal. Painéis de azulejos no século XX (1987). Agostinho Guimarães, Azulejos do Porto (1989). A. J. Barros Veloso e Isabel Almasqué, Azulejaria de exterior em Portugal (1991) e O azulejo português e a arte nova (2000). Teresa Saporiti, Azulejos de Lisboa do seculo XX (1992) e Azulejaria de Luís Ferreira, ou “Ferreira das tabuletas” (1993). Pascal Quignard, A fronteira. Azulejos do Palácio Fronteira (1992). As colecções do Museu Nacional do Azulejo, Lisboa (1995). Francisco José Carneiro Fernandes, O azulejo. Um olhar no Alto Minho e Baixo Minho Litoral (2000). J. M. dos Santos Simões, A Casa do Paço da Figueira da Foz e os seus azulejos (1947). Fernando Bento Gomes, A publicidade no azulejo (2004, só para as fotos).

Sobre as calçadas bem portuguesas de calcário branco e basalto negro, nomearei o livro de Ana Cabrera e Marília Nunes, Olhar o chão (1990).

Arquitetura

Orlando Ribeiro, Geografia e civilização (1961, reed. 1992). José Manuel Fernandes e Maria de Lurdes Janeiro, Arquitetura vernacula da região saloia. Enquadramento na área atlântica (1991, com relações e fotos das Canárias). Mário Moutinho, Uma arquitetura popular portuguesa (1995, com quase duzentas fotos).

António J. C. Maia Nabais, Moinhos de maré (1986, Seixal). Lopes Marcelo, Moinhos da Baságueda (1999, Penamacor). Rui Guita, Engenhos hidráulicos tradicionais (1999, Guadiana).

Armando Reis Moura, Espigueiros de Portugal (1993). António J. S. Afonso de Deus, O espigueiro na paisagem de Oliveira de Azeméis (2003).

Estuques decorativos do Norte de Portugal (1991, catálogo da exposição no Porto).

João Francisco Vilhena e Maria Regina Louro, Faróis de Portugal (1995, o livro sobre o tema).

Jorge Pereira de Sampaio e Cândida de Arruda Botelho, Casas portuguesas e brasileiras (2000). Domingos Tavares, Casas de brasileiros (2015).

E. B. de Ataíde Malafala, Pelourinhos Portugueses (1997, luxuoso e exaustivo).

Rita Costa Gomes, Castelos da raia. Vol. I. Beira. Vol II. Trás-os-Montes (1996 e 2003, magnífico, com belas fotos).

José Correia de Azevedo, Inventário artístico ilustrado de Portugal (8 vols., 1991-1992, soberba e muito lúcida digressão por todo o país). Júlio Gil, Os mais belos palácios de Portugal (1992). José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses (2002). Anne de Stoop, Quintas e palácios nos arredores de Lisboa (1986) e Palácios e casas senhoriais do Minho (1993) –pena que a autora, em 1994, se tenha deixado levar em A arte de viver em Portugal por uma pirosa idealização, e ainda por cima prefaciando o livro um dos políticos mais perniciosos da devastação de abril. Patrick Bowe, Casas e jardins de Portugal (1998, muito bom, pelo autor de Jardins de Portugal, 1989).

A editora Elo publicou, nos anos 80 e 90, numerosos e belos volumes sobre monumentos portugueses: Palácio Nacional de SintraPalácio Nacional da PenaPousada da Rainha Santa IsabelSanta Maria de AlcobaçaConvento de Cristo, etc.

Do Portugal românico, tão rico e singular, encontram-se em castelhano os dois volumes competentes (12 e 14) da colecção Europa Românica, da autoria de Gerhard N. Graff (1987).

Comboios

Cem anos de caminho de ferro na literatura portuguesa (1956). Michael J. Fox, Last steam locomotives of Spain and Portugal (1978, trad. esp. 2004). D.W. Winkworth, Portuguese narrow gauge album (2006). José Ribeiro da Silva, Os comboios em Portugal (5 vols., 2004-2009, oficialista, mas cheio de dados e fotos) e Cronologia ferroviária de Portugal (2017). António Reinaldo Mendes, História do caminho-de-ferro. Vida de um ferroviário (2009). João Cunha, Nohab. As automotoras em Portugal (2018). Manuel Castro Pereira, Memórias do Vale do Vouga (2000, magnífico). Carlos d'Abreu, A linha do Vale do Sabor (2015). Duarte Belo, A linha do Tua (2013, maravilhoso). Carlos Cipriano, Guardas de passagem de nível (2017, cativante). E muitos trabalhos na revista da APAC Bastão piloto, ainda em vigor.

Mas acima de tudo, muito particularmente, coloco os guias de horários, de onde pude obter alguns dos meus tempos e os de 1985 e 1971, este último um convite ao sonho, no auge dos comboios portugueses. ainda com um incrível apêndice de vinte páginas (!) com os horários das “carreiras” que se conjugavam com os dos comboios por todo o país. Por volta de 1971 teria podido conhecer Portugal de uma forma infinitamente melhor e mais completa do que depois de 1987, sem falar na força popular que iria encontrar já quase completamente abatida.

Jogos e brinquedos

António Cabral, Jogos populares portugueses (1985). Mário Cameira Serra, O jogo e o trabalho (2001) e Jogos tradicionais ao serão e na taberna (2004, ambos excelentes).

Madalena Braz Teixeira, O brinquedo português (1987). O brinquedo em Portugal (1997).

Gastronomia

Oleboma, Culinária portuguesa (1936, reed. 1994). Maria de Lourdes Modesto, Cozinha tradicional portuguesa (1982, o clássico da matéria, com as suas receitas). José Quitério, Livro de bem comer (1987) e Histórias e curiosidades gastronômicas (1992, do maior gourmet do país, e grande escritor). Mathilde Guimarães, Comeres alentejanos (1991). Adozinda Marcelino e Acúrcio Martins, Memórias da cozinha transmontana (2013). Marília Abel e Carlos Consiglieri, O bacalhau na vida e na cultura dos portugueses (1998). D. Sebastião Pessanha, Doçaria popular portuguesa (Estudo etnográfico) (1957).

A Editora Assírio & Alvim tem publicado inúmeros livros sobre o assunto. Uma autoridade muito simpática, puramente portuguesa, foi Gonçalo dos Reis Torjal, que escreveu para a imprensa portuense e de quem foi editado no final dos anos 90 o pequeno guia Panela ao lume.

Vinhos

Jan Read, The wines of Portugal (1982; trad. 1989, Vinhos de Portugal). José A. Salvador, O livro dos vinhos (1989). François Guichard, Rótulos e cartazes no vinho do Porto (2001). Rui Graça Feijão, Os vinhos verdes (1990). José Estévão, Quintas do vinho verde (c. 1990). Rogério Reis, Roteiro do vinho do Porto (1986, pelas fotos do Alto Douro). Alex Liddell e Janet Price, Port Wine Quintas of the Douro (1992, traduzido). Do presente, em tempos de sulfitos e mistificações, é melhor não falar.

Açores

José Leite de Vasconcelos, Mês de sonho (1926). Raul Brandão, As ilhas desconhecidas (1926, última reed. 2011). Luis B. Leite de Ataíde, Etnografia. Arte e vida antiga dos Açores (4 vols., 1973-1976). Armando Cortes-Rodrigues, Cancioneiro geral dos Açores (3 vols., 1982). Carreiro da Costa, Etnologia dos Açores (2 vols., 1989-1991). J. H. Borges Martins, Crenças populares da Ilha Terceira (2 vols., 1994). Jorge Alberto da Costa Pereira, Peter. Café Sport (1995, com os "scrimshaws" de Fátima Madruga Gomes). João A. Gomes Vieira, O homem e o mar. Artistas portugueses do marfim e do osso dos cetáceos. Açores e Madeira (2003, id.).

Outros

Amorim Girão, Geografia de Portugal (1960, com uma bela galeria fotográfica).

Célio Rolinho Pires, Os cabeços das maias (1995) e O país das pedras (2000), livros emocionantes. A segunda é uma obra capital, escrita com a lucidez, audácia e sensibilidade de um verdadeiro poeta que não engole nem uma das falácias da modernidade.

Pedro Castro Henriques, Parques e reservas naturais de Portugal (1990). Parques de Portugal (1989, para as fotos).

Fernando Cardoso, Poetas populares (4 vols., anos 70, com vinte figuras focalizadas).

J. Gonçalves Monteiro, Malteses e ladrões (1990).

A publicidade em Portugal através do bilhete postal ilustrado (1998).

José Borges, Fotógrafos "à la minuta" (2004).

José Manuel Fernandes, Cinemas de Portugal (1995).

Samuel Alemão, Cafés Portugueses (2017).

Manuel Alves de Oliveira e Leonel de Oliveira, A cortiça (1991); Azinhal Abelho, A aventura da cortiça (s.d.).

António Afonso de Deus, Ana Durão Machado e Luís Manuel de Sousa Martins, Memória das águas do rio. Moinhos, moleiros e padeiras da freguesia de Ul, 2003,